A recente aprovação da nova regra de reajuste do salário mínimo, que ainda aguarda sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é mais uma decisão polêmica que parece desconsiderar a realidade dos trabalhadores brasileiros. Sob a justificativa de “responsabilidade fiscal”, o governo aprovou um limite de 2,5% para o aumento real do piso salarial, o que resultará em um salário mínimo de R$ 1.518 em 2025 — R$ 10 a menos do que seria com a regra anterior.
Um ajuste tímido e insuficiente
Embora o valor represente um aumento de R$ 106 em relação ao salário atual, ele ainda está aquém do necessário para recuperar o poder de compra da população. O trabalhador, que já enfrenta uma inflação crescente e uma economia marcada pela alta no custo de vida, sente o impacto direto dessa política de contenção de gastos.
Na prática, o novo salário mínimo ignora o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, que foi de 3,2%, e reduz o potencial de valorização real do rendimento do brasileiro. Com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) fechando em 4,84%, a regra atual permitiria um salário mínimo de R$ 1.528. Mas, com o novo limite, o reajuste será represado, e o trabalhador pagará o preço de uma economia desequilibrada.
Quem ganha com isso?
O discurso de ajuste fiscal e equilíbrio das contas públicas tem sido usado para justificar cortes que afetam diretamente a população mais vulnerável. Segundo cálculos apresentados pelo governo, a economia gerada com a redução de R$ 10 no reajuste será de R$ 3,5 bilhões. No entanto, especialistas argumentam que o impacto dessa decisão será insignificante frente ao déficit fiscal projetado, enquanto as consequências para milhões de brasileiros são profundas.
Benefícios sociais, como o abono salarial, o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), também são corrigidos pelo salário mínimo. Reduzir o reajuste significa limitar ainda mais o alcance dessas políticas públicas essenciais.
Desconexão com a realidade
A medida é um retrato de como decisões políticas frequentemente se distanciam das necessidades reais da população. Desde sua criação, em 1936, o salário mínimo tem como função garantir condições básicas de subsistência. No entanto, com um valor que mal cobre os custos de alimentação, transporte e habitação, ele está longe de cumprir esse papel.
O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que, para atender às necessidades básicas de uma família, o salário mínimo deveria ser superior a R$ 6 mil. Diante disso, o reajuste anunciado parece mais uma política de contenção social do que uma medida de valorização do trabalhador.
O que esperar?
Se o governo pretende realmente promover inclusão e combater desigualdades, decisões como essa precisam ser reavaliadas. Ajustar o salário mínimo é mais do que um ato administrativo; é um reflexo do compromisso de uma gestão com a dignidade de seu povo.
Enquanto o ajuste de R$ 10 parece pequeno no papel, ele revela uma prioridade clara: o trabalhador, mais uma vez, fica em segundo plano em nome de metas econômicas que não traduzem a realidade do Brasil.
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